(jornalista Içara)
"-À porta da Escola Estadual Mariinha Tavares, no bairro Jardim Brasília, Eddy nelson já esperava. Ainda não o conhecia, mas imaginava encontrar uma pessoa forte, decidida e deteminada. Nosso primeiro contato foi muito rápido, por telefone. Durante a ligação, ele falou pouco, mas adiantou sobre a vida na cidade de Irará e o início tardio dos estudos em Salvador. O suficiente para me deixar curiosa e cheia de vontade para desvendar os detalhes de uma trajetória, no mínimo, curiosa. Marcamos a entrevista.
Ao avistar o carro com a identificação do jornal, ele acenou. Conhecido pelos colegas e professores como Edie, me recebeu com um largo sorriso e me convidou a entrar na escola como se convida alguém para conhecer a própria casa. Entrei sem cerimônias. Procurou um local tranquilo e sem muito barulho para conversarmos e disse que precisava avisar à coordenadora sobre a minha chegada. Entramos numa das salas da direção. Armários cheios de adesivos, pouca luz, um computador e uma mesa. Antes mesmo de eu me acomodar em uma das cadeiras, perguntei a ele qual era o maior sonho que tinha. Ainda de pé, ouvi a resposta enfática e imediata: “eu quero ser jogador de futebol”.Edie é mesmo forte. Negro, 1,70m, 15 anos. Nasceu em Salvador, mas foi para Irará ainda pequeno, “porque as condições por aqui estavam difíceis”. Com a mãe e cinco irmãos, morou na zona rural, longe da escola e do centro da cidade do interior. Por lá, as atividades diárias começavam cedo. Acordava às 5 horas, tirava o leite da vaca, alimentava os porcos e separava castanhas, na lida, em casa. “Para chegar no colégio, tinha que terminar as tarefas e andar por um caminho distante, como daqui do Jardim Brasília até Itapuã”, conta. A necessidade de contribuir com a avô no trabalho do dia a dia e a moradia distante de uma escola dificultaram a presença de Edie na sala de aula. Ele não soube o que era estudo até os 10 anos de idade.
Veio para Salvador “porque a minha avô precisava me botar na escola”. Passou por outros colégios até chegar na Escola Estadual Mariinha Tavares, há dois anos. Sem histórico escolar, não conseguiu ingressar numa turma com alunos de mesma idade. Depois de avaliações de nivelamento, conseguiu avançar etapas e hoje cursa a 7ª série. Os garotos de 15 cursam o 1º ano do Ensino Médio. Um dia, ouviu do padrastro que não deveria se dedicar apenas ao sonho de se tornar jogador de futebol. Decidiu obedecê-lo.
Na Mariinha Tavares, descobriu que poderia ter acesso a um curso de design gráfico e não hesitou. Uma equipe de profissionais passou pela instituição para divulgar a escola de design e oferecer bolsas de dois meses aos melhores alunos. Edie viu, ali, uma oportunidade para extrapolar o sonho de correr pelos gramados. Por ter boas notas, conseguiu a chance de fazer o curso, de graça, por 60 dias. A bolsa acabou e ele queria mesmo era continuar a aprender. Foi aí que decidiu seguir o conselho do amigo Jonari, professor das aulas de teatro do Colégio Salesiano. As aulas de interpretação são custosas, mas Edie explica que frequentou a turma por algum tempo, após conseguir uma bolsa de estudos durante uma apresentação na Biblioteca Monteiro Lobato. “O professor da biblioteca disse que eu tinha talento e me indicou”. Edie gosta de teatro e deixa claro que não perde nenhuma das oportunidades ou presentes do destino. Nem as oportunidades, nem os conselhos. Seguiu a dica do professor Jonari.
Jonari lhe emprestou R$ 30 e disse que ele deveria comprar algo para vender nos ônibus. Contou a ele sobre o próprio passado, tempo em que vendeu picolé nos coletivos para arrecadar o dinheiro necessário para a sobrevivência. No início, Edie comprou canetas, mas logo passou a vender ímãs de geladeira, de ponto em ponto. “É mais barato que as canetas”, justifica. O professor não cobrou o empréstimo. O aluno aprendeu a lição e, com as vendas, arrecada cerca de R$ 60 por dia. Com o dinheiro, paga o transporte, as despesas com o treino de futebol (ele ainda quer ser jogador e sonha em conhecer o Centro de Treinamento do Santos) e o curso de designer, que ele já faz há dois anos. “Se a gente colocar uma coisa na cabeça, não depende de ninguém para realizarmos, só depende da gente. Eu quero e eu consigo. Todos nós temos capacidades”, diz Edie.
Edie foi personagem da coluna RG desta semana. E eu não me enganei: é mesmo decidido e determinado! (Içara Bahia)"
Agora publico a 2ª parte:
Hoje estou com 16 anos, um ano se passou e muita coisa em minha vida mudou para melhor! Consegui terminar meu curso de espanhol no CCAA, fiz um curso de informática completo e, com a bolsa que consegui no COLÉGIO SALESIANO fiz o Curso de teatro que terminei agora em setembro e no momento estou fazendo um curso de computação gráfica profissionalisante que tem 4 anos de duração, tendo concluido 03 anos do mesmo. Ainda quero concluir o Ensino Fundamental e fazer meu pré-vestibular e com fé em Deus ingressar em uma faculdade.
Sei que vai ser uma luta muito grande concluir o meu curso de Computação Gráfica, porque, como vocês sabem, não tenho uma condição muito favorável financeiramente e necessito pagar as mensalidades de R$178 reais , R$ 62 reais no meu cartão Salvador Card e ainda com alimentação e compra de materias do própio curso. Por isso, peço a todos vocês que, colaborem comigo comprando o imã que continuo vendendo nos coletivos. Sua colaboração pra mim é muito importante! Pense nisso! Obrigado a todos que Deus ilumine o caminho de vocês.